Resumo das palestras da Jornada de Behaviorismo

 
Mesa 1

Epistemologia e Comportamentalismo Radical


A jornada se deu início no horário programado, sendo que o evento em se tratou de uma iniciativa do professor Tiago Alfredo da S. Ferreira junto aos seus alunos e contou o grande apoio da Faculdade Social. Tiago inicia agradecendo a presença de todos inclusive dos palestrantes que aceitaram o convite para participar do evento. Já na introdução de sua palestra Tiago reforça que o tema da jornada gira em torno dos diálogos possíveis com o Behaviorismo Radical. A proposta de sua palestra, intitulada Epistemologia e Comportamentalismo Radical, era a de primeiramente esclarecer equívocos a respeito do que se entende sobre behaviorismo.
Tiago busca ratificar que o behaviorista não é aquele que compreende melhor a realidade em detrimento de outras correntes filosóficas, uma vez que o comportamento não é algo a ser descoberto, mas sim interpretado e para isso vai se utilizar de recursos teóricos específicos.
A palestra levou os ouvintes a conhecer o que Skinner chama de conhecimento, ou seja, o mesmo passa a existir se a comunidade verbal assumir os enunciados inicialmente propostos para serem discutidos. Com isso fica evidente que é preciso haver intersubjetividade para a construção do conhecimento objetivo. Em suma, a epistemologia comportamentalista enuncia que o diálogo é a única fonte possível de produção do conhecimento.

A palestra de Rodrigo Guimarães vem logo em seguida ratificando que o behaviorismo é a  filosofia da ciência conhecida como Análise Experimental do Comportamento, conduzindo a platéia de forma panorâmica entre o nascimento da psicologia acadêmica através de Wundt em 1879, passando por Watson e o surgimento do behaviorismo metodológico até por fim chegar a Skinner e ao Behaviorismo Radical.
As dificuldades de Watson em explicar como certos comportamentos poderiam ser explicados sem ter que apelar para a fisiologia foram esclarecidas por Skinner quando este busca focar o estudo das relações entre um estímulo e a resposta, deixando para outras ciências as explicações fisiológicas. Rodrigo deixou claro que a grande contribuição de Skinner está no fato de seus estudos estarem voltados a como a gente aprende a perceber o que se foca em nosso corpo, ou seja, o Behaviorismo Radical se foca na formação da subjetividade.
 
Diálogo entre Psiquiatria e Análise do Comportamento
Sandro Iego inicia com uma  polêmica de que sujeitos perdem a sensibilidade às conseqüências e por isso a análise do comportamento tem que partir para outras estratégias de intervenção, pois toda analise do comportamento é pautada em seleção por conseqüências. Para reforçar estes argumento Sandro cita experimentos ocorridos na década de 40 envolvendo ratos como sujeitos experimentais com o cerebelo lesionado e se tornando insensíveis a certo tipo de condicionamento respondente, o qual dependeria assim do “bom” funcionamento  de estruturas fisiológicas.  

A palestra continua com Sandro afirmando que muito do que fazemos é fruto de nossa história e também parte é fruto de controle por regra (controle verbal). Cliente com comportamento governado por regra é difícil de fazer intervenção, pois o mesmo fica mais insensível às conseqüências. Pode-se alterar a sensibilidade ao controle operante através do controle por regra, mas também há doenças psiquiátricas que alteram a sensibilidade às conseqüências. E é a partir daqui que, segundo o palestrante, a análise do comportamento precisaria da ajuda da psiquiatria, pois pacientes psicóticos estariam insensíveis às certas conseqüências.
Para exemplificar tais doenças, Sandro fala sobre a esquizofrenia e que certos sintomas são provocados pela alteração da secreção de dopamina em certas vias do encéfalo humano. Segundo Sandro alguns analistas do comportamento concordariam com ele e outros não.
Depois de explicar o funcionamento de quatro vias dopaminérgicas e de como estas estariam impactando no comportamento de sujeitos esquizofrênicos, Sandro encerra a palestra com um estudo de caso clínico de esquizofrenia acompanhado por ele mesmo, no qual enfoca em seu relato as dificuldades de se trabalhar apenas com psicoterapia e de como foi importante e necessário trabalhar junto com o psiquiatra do paciente para o acompanhamento do caso.


Mesa 2

Teoria e Prática Clínica
A Profa Amanda Raña Ferreira introduz o tema Comportamento governado por regras com questionamentos sobre se a regra indica como uma pessoa pode se comportar e se podemos prever a resposta de alguém pelo enunciado de uma regra. Apresenta o conceito de regra de Skinner, enfatizando que a regra é um estímulo discriminativo e especificador de contingência, ou seja “é um precedente, uma ocasião em que quando uma resposta é emitida, ela produz uma conseqüência”.

O conceito de regra foi apresentado através de vários exemplos a partir de mensagens e conselhos, como: “Quando eu estiver triste, me abrace que eu ficarei melhor” para ilustrar que uma regra é um precedente (neste exemplo me abrace) e é ela que especifica a contingência. Por outro lado, sendo a regra derivada da contingência, podemos ter uma resposta agora evocada pela regra (o meu próprio comportamento) Ex.: Não vou sair às 6h, senão ficarei no engarrafamento.
Ainda segundo Skinner, a palestrante ressalta que ”a regra, na maior parte das vezes, sempre é algo menos importante que a contingência, porque no controle das regras é preciso também produzir uma conseqüência para que esta vá retroagir sobre o comportamento controlado das regras e assim, ser mantido. Profª Amanda voltou ao exemplo do abraço, esclarecendo que a regra é estabelecida e continua o comportamento para que este comportamento produza uma conseqüência (me abraça e eu ficarei melhor). “E se eu ficar melhor como reforçador para outra pessoa existe aí uma conseqüência que vai retroagir sobre esta outra pessoa que vai me abraçar quando eu estiver triste”.
Em relação à formulação de regras, afirma que “são extraídas de contingências de reforço e podem ser usadas como guia para a própria pessoa ou outra pessoa”
Com o exemplo do engarrafamento, a palestrante aprofunda que se em determinado momento a pessoa resolve pegar o trânsito e entra em contato com a conseqüência, então o horário funciona como o precedente que especifica a hora, a resposta e a conseqüência. No contato com esta contingência algumas vezes se forma uma regra. Sendo esta regra derivada desta contingência.
Continua abordagem afirmando que há dois tipos de conseqüência que podem manter o comportamento controlado por regras: o contato com conseqüências naturais (conselhos, mensagens... como já foi exemplificado) e conseqüências sociais que são instruções, ordens (de pais dão para os filhos, de patrão para empregado...).
A palestrante apresenta ainda duas utilidades do comportamento controlado por regras:
1.    Quando há correspondência entre a regra e a contingência – Há correspondência entre o que está dito na regra e aquilo que a pessoa vai entrar em contato. Ex: Viajei para porto de galinhas, mas não gostei. Logo não entro em contato com a contingência.
2.    Quando não há correspondência entre a regra e a contingência - pode fazer com que um comportamento (uma resposta) não entre em contato com a contingência. Aí existe um fortalecimento e uma manutenção do comportamento de seguir regras, então não precisa que haja uma conseqüência natural ou social a cada resposta controlada por regras, como ocorre no levantamento intermitente.
Conclui afirmando que o comportamento que não entre em contato com a conseqüência é um comportamento que não tem aquele mesmo propósito relativo à probabilidade de resposta. Em relação ao comportamento que entra em contato com a conseqüência então devemos observar sempre a freqüência de resposta e as variáveis de controle presentes para prever como o indivíduo vai se comportar futuramente.


Mateus Souza relatou um caso clinico quando as regras criam problemas - o caso João.
Na terapia, o analista do comportamento deve manipular as contingências que estão presentes na vida do cliente, levando em consideração que as contingências mais importantes da vida dele estão fora da clínica. Logo, o analista do comportamento, tendo isso em vista, faz análises funcionais, ou seja, ele analisa o que torna uma resposta mais provável, as contingências que controlam o comportamento do cliente.
O comportamento verbal do cliente é a chave para a prática clínica na Análise do Comportamento. Através do comportamento verbal é possível observar outro tipo de comportamento, o “comportamento governado por regras”, que é entendido como o comportamento que depende do comportamento verbal de outra pessoa (falante), ou seja, está sob controle de antecedentes verbais que descrevem contingências. Contudo deve-se ressaltar que o “comportamento governado por regras” nada mais é que o comportamento verbal.
 Já que a análise funcional se baseia no relato verbal que o cliente fornece ao seu terapeuta, então, o analista do comportamento deve identificar o que está controlando o relato verbal do cliente, uma vez que o relato verbal de uma determinada situação pode ser uma esquiva do cliente em relatar uma situação importante de sua vida, que está controlando os comportamentos que produzem nele desconforto.
O caso de João, relatado por Mateus, descreve um comportamento controlado por regras de um jovem de 27 anos, filho mais novo de pais divorciados, tem um irmão, mora com o pai e trabalha em computação, que tinha sofrido uma crise aguda de ansiedade, já medicado com antidepressivos e que passa a viver com medo de ter outra crise face sua historia de vida, (pai controlador, exigente e de repertorio agressivo) e de contingências de reforçamento operante (o retorno da escola, os passeios em família e os finais de semana). Nesse relato quando as regras criam problemas, Mateus destaca a importância da pratica contínua - por mais que se ofereçam modelos e regras.

A Formação do Analista de Comportamento
No dia 21 de Maio de 2011 na sala Irmã Maria Alice da Faculdade Social, Ana Lúcia Ulian palestrou sobre um tema importante para os estudantes de psicologia que é “A Formação do Analista de Comportamento”.
No inicio da palestra Ana Lúcia esclareceu que os pressupostos científicos que servem de base para a formação do analista de comportamento é, o científico (previsão e controle) e filosófico (níveis de determinação do comportamento baseado no modelo de seleção pelas conseqüências). Ainda fez questão de enfatizar, que sem  convicção desses pressupostos não seria possível ser um analista de comportamento.
Explicou também que o analista de comportamento não é um técnico e sim um analista, que faz um tipo de análise chamada de análise funcional. Evidenciou que o termo mais adequado a ser usado pelos analistas do comportamento, seria análise de contingências.
Para explicar como se faz análise de contingência na clínica, ela usou uma metáfora que chamou de “metáfora do quebra-cabeça” e esclareceu as fases que foram assim organizadas:
1º) Identificar o comportamento-problema e o contexto em que ocorre
2º) Relacionar eventos descrevendo e explicando comportamentos
3º) Identificar e explicar as próprias respostas
4º)  Propor ou induzir o cliente a propor alternativas e ação, agir e avaliar ações
Finalizou sua exposição falando sobre “o que” e “como” ensinar para se formar um terapeuta analítico comportamental na graduação.
Ana Lúcia, mais do que mostrar o passo-a-passo e as pesquisas que fez sobre a formação de analistas do comportamento, destacou a importância da prática contínua e despertou o interesse dos alunos em conhecer um pouco mais sobre a formação em análise do comportamento.


Homenagem feita à Professora Mercedes


No dia 21 de março, no fechamento da Jornada de Behaviorismo Radical, foi feita uma homenagem póstuma à Professora Mercedes Chaves de Carvalho, como forma de  reconhecimento por toda a sua dedicação e trabalho ético em prol da Educação e da Psicologia.
Esta homenagem foi feita pela Professora Ana Barbara Neves, ex-aluna e grande amiga da Professora Mercedes.
No primeiro momento foi feita uma apresentação cronológica sobre a formação e trabalhos desenvolvidos durante a sua carreira profissional, e como fechamento, a exposição do discurso proferido por ela, no momento de sua aposentadoria.
Foi muito emocionante! Para as pessoas presentes que tiveram a oportunidade de conhecer e conviver um pouco com a tão querida professora, foi um momento de saudade, e para as pessoas que não a conheciam, foi uma oportunidade também emocionante, pois ficou visível nas palavras e gestos da professora Mercedes no discurso de sua aposentadoria, o grande amor que dedicava à sua profissão. Podia-se ver muitas lágrimas de emoção e reconhecimento nas faces das pessoas presentes.
Apresentaremos abaixo um resumo dos acontecimentos marcantes durante a vida da Professora Mercedes:
1.       Formação
·         Mercedes Cunha Chaves de Carvalho se graduou em Filosofia em 1958;
·         Não existia curso de Psicologia na Bahia, por este motivo ela fez o curso de Filosofia na UFBa, quando ainda era faculdade de Filosofia Ciências e Letras;
·         Foi aluna do psiquiatra João Ignácio de Mendonça, que lutou durante dez anos pela implantação do curso de Psicologia na Bahia;
·         Carolina Bori avaliou o currículo de Mercedes antes de conhecê-la, como uma das pessoas que já trabalhava com Psicologia antes da criação do curso no Brasil.

2.       Implantação do Curso de Psicologia da UFBa
·         Mercedes Cunha Chaves de Carvalho participou da criação do curso de Psicologia da UFBa, que teve início em 1968.

3.       Pós-graduação
·         1976 – Fez algumas matérias de mestrado e doutorado na USP;
·         1979 – Mestrado em Educação;
·         1980 – Projeto Alto das Pombas - Doutorado em Análise do Comportamento na USP.



4.       Aposentadoria Compulsória
·         1990 – Com grande tristeza a Professora Mercedes se aposenta da UFBa, por entender que estava em um momento áureo na sua profissão, e ainda tinha muito a contribuir com esta Faculdade, com a educação e principalmente  com os alunos que ali estudavam.

5.       Trabalhos pós UFBA
·         1998 – Criação do curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa (30 anos após a criação do curso da UFBa), pouco depois reconhecido como um dos sete melhores cursos do País;
·         2009 – Admissão no curso de Psicologia da Faculdade São Bento;
·         2010 – no dia 24 de dezembro, foi com grande pesar que a comunidade Baiana foi informada do falecimento da Professora Mercêdes, exemplo de ética e determinação em tudo que fazia.


“A única maneira de começarmos a agir é mudando a nós mesmos, a partir da cooperação e não do conflito; do respeito e não da humilhação; do amor e não do ódio.”
(Mercedes Cunha Chaves de Carvalho -  Entrevista - 2007)